“A Póvoa da Dom Martinho”

Fundada a 14 de junho de 1995, a Associação Dom Martinho nasce da iniciativa de um conjunto de povoenses interessados em promover o estudo, defesa e valorização do património histórico e cultural da Póvoa de Santa Iria.

A sua denominação provém do nome pela qual a localidade passou a ser conhecida “Póvoa de Dom Martinho” quando, em meados do século XV, Dom Martinho Vaz de Castelo Branco tornou-se o 7º Senhor do Morgado da Póvoa, morgadio que oficialmente se estendeu por 515 anos (1348-1863).

Nos quase 25 anos de existência a associação procurou funcionar enquanto elemento dinamizador de ações várias que por objetivo tinham o aprofundar do conhecimento dos valores identitários da cidade, evocá-los e transmiti-los num discurso entre gerações, responsável e pedagógico.

A organização de exposições e debates sobre questões relevantes da realidade local; de visitas culturais a pontos de interesse na freguesia, no concelho e até mesmo fora deste; de encontros de poesia que trouxeram regularmente à Póvoa tantos poetas e declamadores, consagrados e anónimos, povoenses ou não, foram algumas das atividades desenvolvidas que aqui poderemos destacar. De realçar ainda a linha editorial aberta em nome da associação que publicou ao todo quatro obras, duas refletindo assuntos da história local e dois volumes de poesia que cresceram das séries de encontros antes referidos.

Em 1999 a associação assentou as suas bases ocupando duas salas no edifício do Palácio da Quinta da Piedade, cedidas pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, onde disponibilizou ao público uma exposição centrada na história, modos de vida e gentes da Póvoa. Funcionando como espaço de memória e aprendizagem, aqui se exibia uma parte considerável do espólio da associação, reunido com base em doações feitas por muitos povoenses e amigos, e ainda alguns objetos cedidos temporariamente para o efeito pelo Museu Municipal de Vila Franca de Xira.

A decisão de extinguir a Dom Martinho foi tomada em assembleia geral de outubro de 2019, fundamentalmente devido à falta de sócios interessados em dar continuidade ao trabalho que vinha sendo desenvolvido. Por sugestão dos associados, o acervo foi na totalidade entregue à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira que, com plena consciência do seu valor e enorme importância local, aceitou a oferta transitando o espólio para o Museu Municipal.

A exposição que agora se apresenta tem por objetivo assinalar este momento de passagem de testemunho, mas acima de tudo evocar a Dom Martinho pela sua inabalável luta em defesa do património da Póvoa de Santa Iria, e homenagear todos aqueles que por motivos maiores deram um pouco mais de si possibilitando que a associação se formasse, desenvolvesse trabalho e iluminasse, dentro e fora de portas, alguns aspetos relevantes da terra que a viu nascer.

Para além de uma breve exibição de alguns testemunhos da história da própria associação, segue-se um conjunto de pequenos núcleos temáticos com conteúdos retirados da sua coleção, que ilustram pedaços significativos da matriz identitária povoense. Poderiam ter sido tantos outros, optou-se por estes, e entre eles dois semelhantes contributos de referência no movimento associativo da Póvoa de Santa Iria: a Associação de Socorros Mútuos “Dora” e o Grémio Dramático Povoense, este último trazido a assunto no percurso de vida do maestro Francesco Venturini.

O fim de algo não determina necessariamente o final de tudo. A Associação Dom Martinho surge na peugada de uma vincada tradição local no campo das coletividades, que ao longo dos dois últimos séculos serviram de expressão maior do valor da liberdade e na consagração democrática da sociedade civil. Marcou o seu tempo e espaço, e perdurará na memória de muitos enquanto memória houver a perdurar. Outras mais palmilharão o caminho, queira apenas a vontade e o desejo de quem sente no associativismo uma nobre forma de vida.

• Folha de Sala

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